sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Amamentar é acreditar em si mesma

Gostaria de convidá-los a lerem meu texto, que foi publicado no blog Mamíferas, no dia 13 de fevereiro de 2012. Minhas reflexões sobre a amamentação, maternidade e influência dos pitacos alheios nessa história.
Acessem e confiram
http://www.mamiferas.com/blog/2012/02/amamentar-e-acreditar-em-si-mesmo.html

Aqui o texto para quem não conseguir acessar pelo link



AMAMENTAR = ACREDITAR EM VOCÊ MESMA

Deus deu à mulher, o dom de gerar a vida, o poder de parir, a dádiva de nutrir e a responsabilidade de educar.

Essa é uma história linda, longa, cheia de aprendizado, superação e principalmente plena de muito amor.

Comemoro hoje, dia 6 de fevereiro, 6 meses de vida do meu segundo filho, Artur,meu pequeno leão dos olhos verdes de mares gelados e profundos. Comemoro 6 meses de amamentação exclusiva, sem nenhumazinha mamadeira e nenhum bico!!! Muita gente deve ler isso e achar “Essa é doida!”, mas essas pessoas não têm a noção da plenitude que me trouxe conseguir chegar até aqui. Vou contar a história do princípio, três anos atrás, quando chegava meu primeiro filho, Pedro.

Desde nova tive vergonha dos meus seios, porque um deles tinha o bico mal formado, diferente daqueles seios maravilhosos que vemos nas revistas. Uma vez uma mulher me disse, “ Será que você vai conseguir amamentar com esse peito?”, acho que tinha 12 anos. Nesse momento foi lançado sobre mim essa dúvida, que se tornou um estigma, que me fez duvidar de minha capacidade mamífera de amamentar, me fez ter vergonha do meu seio.

Em janeiro de 2009, fui fazer o curso de amamentação do Odete Valadares, por sinal maravilhoso, lembro muito bem da senhora falando, “bico de peito pra dentro, pra fora...não é problema, o bebê pode mamar de qualquer jeito” Saí de lá mais tranqüila, mas ainda com a pulga atrás da orelha e uma enorme insegurança de saber se meu filho conseguiria mamar. Falava com ele dentro da barriga, dizia a ele que mamaria muito nos peitões da mamãe. Em fevereiro, nascia meu primeiro rebento, de um parto longo, desgastante e maravilhoso, que me fez nascer com mãe, como mulher. Ele também estava cansado ao nascer, nem quis muito mamar, só ficou aconchegado em mim. Foi mamar 5 horas depois de nascido. Lembro que só de pensar em pegá-lo para mamar, começava a suar frio, ficava toda dura, morrendo de medo dele não conseguir. Tentava dar o peito esquerdo, que é o que seria mais difícil para a sua pega, via que ele não conseguia e já desistia e passava para o direito. Não bastasse a dificuldade de mãe de primeira viagem, ainda fomos internados por conta de uma icterícia fortíssima dele, no terceiro dia de vida, ficamos uma semana num hospital, que não me deu o menor apoio na amamentação, nem perceberam que ele estava perdendo muito peso, muito menos ligaram a demora em baixar os níveis de bilirrubina com a amamentação insuficiente. Todas essas conclusões eu só consegui tirar muito tempo depois. Eu não sabia como ordenhar o leite, para que meu bebê pudesse mamar mais facilmente, meus peitos estavam parecendo dois balões gigantes e o pequeno nem conseguis mamar por conta disso. Saímos do hospital, comecei a ter uma rachadura no peito direito que machucava muito, o peito esquerdo já tinha bem menos leite, Pedro chorava muito, colocava ele no peito ficava horas mas nunca estava satisfeito. Fazia pouco xixi e coco. Com 21 dias fomos à uma pediatra, que “diagnosticou” uma perda de peso grande, e falou “Você tem pouco leite vai ter que entrar com a mamadeira”, isso caiu em cima de mim como uma bomba atômica. Me senti a pior mãe do mundo, chorava todos os dias, dizia a mim mesma, que não servia pra nada, nem pra alimentar meu filho. Que mãe que eu era de ter deixado meu filho com fome...barbaridades. O pior que vejo hoje, foi que a pediatra não me orientou como deveria fazer para dar o complemento e amamentar também. Eu estava sempre muito nervosa e ansiosa, completamente descrente de mim, não conseguia relaxar. Toda hora uma visita intrometida falava algo do tipo, “ Xiii está tomando mamadeira, vai largar o peito”, quando ouvia isso me dava vontade de pular no pescoço da pessoa. Mas graças à Mãe Divina, meu pequeno não largou meu peito, mamou até 1 ano e 8 meses, junto com mamadeira. O peito ele mamava sempre que queria, a mamadeira tinha os horários certos. Nessa época, já começamos a pensar no segundo filho e eu e Pedro desmamamos tranquilamente e sem pressa.

Um mês depois estava grávida novamente, uma alegria imensa, mais um serzinho de luz chegaria para completar a família. Deus estava me dando mais uma chance de acreditar em mim. Desde o princípio da gestação tudo foi muito tranqüilo, nada como conhecer melhor o caminho. Me lembrei das histórias lindas de amamentação que tinha ouvido, que tinha lido, me informei muito sobre amamentação com bico do peito invertido, intruso... descobri que era possível amamentar um bebê só com um dos peitos por seis meses, entre outras coisas. Rebeca minha doula virtual foi uma fofa, que me deu todo apoio e me tirou todas as dúvidas. Eu estava muito tranqüila, dizia que não me mortificaria se tivesse que dar uma mamadeira, mesmo não sendo meu sonho. Na primeira paguei muito à língua, falava que nunca daria mamadeira pro meu filho...

Não fiz nenhum curso de amamentação na segunda gestação, confiei só na minha experiência, na minha tranqüilidade e entrega. Tive como lema o que uma conhecida que há pouco tempo tinha tido seu primeiro filho dizia “tem que por na cabeça que você é uma vaca leiteira...” e eu incorporei isso. Assim que Artur nasceu, mamou por duas horas seguidas, isso pra mim foi uma glória e assim continuou fazendo, nos primeiros dias, era ele abrir os olhos e a boquinha e eu já estava lá dando peito pra ele. Já começaram os palpites, “nossa tá mamando de novo”, “blá, blá, blá”, mas diferente da primeira vez, eu agora tinha uma coisa que não tinha antes CONFIANÇA em mim, em meu poder de mamífera, afinal Deus não me daria dois seus produtores de leite à toa. Outra coisa que foi muito importante foi ordenhar um pouco o leite antes de dar o peito, para o bebê conseguir mamar, isso faz muito diferença para a pega dele. O mamilo fica mais macio e mais fácil de ser abocanhado da melhor forma para sugar. No começo, Artur teve muita dificuldade de mamar no peito esquerdo, pois a boca muito pequena de um recém nascido nem sempre dá conta de abocanhar o peito com o bico de formato diferente. Isso não me abalou, ia tentando do mesmo jeito, com duas semanas, foi ao Odete Valadares, pois estava decidida que queria conseguir fazer ele mamar nos dois peitos, aprendi que a auréola deve ficar na parte de cima da língua do bebê, assim ele consegue sugar melhor e fui tentando até que conseguimos. O dia que senti pela primeira vez ele puxando com força o peito esquerdo, descobri que quando o bebê suga de um lado estimula a produção do outro e vi o quão importante era conseguir amamentar com os dois seios (ele estava com 3 semanas). Daí em diante,mesmo com o esquerdo produzindo bem menos leite, sempre dei os dois seios para ele mamar e hoje dia 6 de fevereiro de 2012, eu comemoro seis meses de amamentação exclusiva!!! Com um bebê que com 3 meses tinha tamanho de 5, com 6 meses tem tamanho de 8, é uma bolota fofa, cheio de alegria e saúde.
Comunico aos palpiteiros de plantão que seria melhor que guardassem seus palpites para eles, assim pode-se evitar abalar a auto estima de mulheres que recém paridas, além de lidar com toda a dança hormonal, o desgaste da adaptação e outras “cositas” mais, ainda precisam lidar com falácias inúteis e fazer cara de paisagem para todos.
Comunico com muita certeza à todas as mamíferas que é possível, amamentar exclusivo com um só peito e com bico de peito diferente dos seios maravilhosos das revistas. O que precisamos é aprender uns segredinhos e ter muita calma, dedicação, perseverança,  humildade e amor, que uma mamífera ao parir suas crias, pari juntamente com elas a capacidade de amar e se doar incondicionalmente a outro ser.
Gratidão Mãe Divina.
Gratidão Pedro, por ter me ensinado e ter vivido comigo tudo o que vivemos para que eu pudesse dar ao seu irmão esse presente de amamentar só o leitinho da mamãe por seis meses.
Gratidão Artur por ter vindo viver conosco esse vida de alegrias e dores, que nos fazem ter certeza de que viver deve ser intenso e não uma eterna anestesia.
Gratidão Ka, meu companheiro por ter estado sempre ao meu lado.
Gratidão Kalu, por ter me contado lindas histórias de amamentação sem nem saber o quanto eu precisava ouví-las.
Gratidão as mulheres da lista do Parto Ativo BH, por dividirem todas as doçuras e amarguras de ser mamíferas...